sábado, 24 de outubro de 2009

ORIGEM DA BOSSA NOVA



Após o lançamento, em 1959, do primeiro LP
de João Gilberto, também chamado Chega de
Saudade, a Bossa Nova rapidamente se
transformou em mania nacional e em poucos
anos conquistou o mundo.



Mas bem antes disso o Rio de Janeiro já vivia um
raro momento de florescimento artístico, como
poucas vezes se viu na história da cultura
nacional. Não é à toa que os anos 50 são
conhecidos como os "anos dourados". O Brasil
vivia então um período de crescimento
econômico que acabou se refletindo em todas as
áreas. Em 1956, Juscelino Kubitschek tomou
posse na Presidência da República com o slogan
desenvolvimentista "50 anos em 5"
No mesmo ano, foram lançados os romances 0
Encontro Marcado, do mineiro Fernando
Sabino, e Grande Sertão: Veredas, de João
Guimarães Rosa, dois importantes marcos na
história da literatura brasileira. Paralelamente,
surgia na poesia um movimento inspirado no
concretismo pictórico, cuja maior característica
foi a valorização gráfica da palavra e do qual
participaram nomes como os irmãos Augusto e
Haroldo de Campos, Décio Pignatari e Ferreira
Gullar, entre outros.

Em 1957, estreava o filme Rio Zona Norte, de
Nelson Pereira dos Santos, um dos primeiros
representantes do que viria a ser chamado
Cinema Novo. Em 1958, a Seleção Brasileira de
Futebol conquistava sua primeira Copa do
Mundo, derrotando a seleção sueca por 5 a 2 e
levando o povo brasileiro a cantar alegremente
"A copa do mundo é nossa | Com brasileiro
não há quem possa". Também em 1958, Jorge
Amado lançava Gabriela Cravo e Canela e
Gianfrancesco Guarnieri estreava no Teatro de
Arena de São Paulo Eles Não Usam Blacktie,
um marco na linguagem do teatro brasileiro.

Em 1959, era lançado o movimento neoconcreto
nas artes plásticas, do qual fizeram parte Lygia
Clark, Hélio Oiticica e Lígia Pape, entre outros.
Em 1960, Juscelino Kubitschek inaugurava a
nova capital do país, Brasília, que possivelmente
teve a primeira música de Bossa Nova em sua
homenagem, composta por Chico Feitosa. Billy
Branco havia feito um sambinha jocoso, Não
Vou, Não Vou Pra Brasília, e Chico musicou
uma letra que falava da vida na nova cidade. O
tema, chamado Paranoá, nunca foi gravado, mas
encontra-se preservado numa gravação particular
feita na época, com o próprio Chico Fim de
Noite cantando. Foi neste contexto que surgiu o
movimento que viria a revolucionar não só a
música brasileira mas toda a produção musical
internacional.

Ainda nos anos 40, a grande novidade musical
foi o lançamento, em 1946, de Copacabana um
samba-canção de João de Barro e Alberto
Ribeiro, gravado pelo cantor Dick Farney com
claras influências da música americana. A
composição foi a precursora do que se chamou
samba moderno, cujos grandes intérpretes foram
o próprio Dick Farney e Lúcio Alves.

A suposta rivalidade destes dois grandes
cantores era alimentada pela imprensa e por seus
fã-clubes. No início dos anos 50, eram eles, com
suas vozes aveludadas, os maiores ídolos da
juventude brasileira. Ao lado de Ary Barroso,
Johnny Alf, Garoto, Dolores Duran, Luiz Bonfá e
Tito Madi, entre outros, influenciaram
decisivamente a formação da geração que se
consagraria através da Bossa Nova

Na área de composição, quem mais havia ousado
era o romântico Custódio, morto precocemente
aos 35 anos, em 1945, autor de Mulher, Velho
Realejo e Saia do Caminho, seu maior sucesso, e
Noturno, composição de harmonia muito
elaborada, de bela linha melódica e considerada,
na época, um verdadeiro teste de interpretação
para qualquer cantor ou cantora.

Custódio, que compôs cerca de 700 canções,
gravadas pelos grandes nomes da época, como
Orlando Silva e Sílvio Caídas, já tentava misturar
os recursos do jazz e da música erudita aos
elementos da música brasileira.

Também era moderno gostar de conjuntos vocais
como os Garotos da Lua, do qual João Gilberto
foi crooner, e os Quitandinha Serenaders, que
contavam com Luiz Bonfá ao violão. Ou ainda Os
Cariocas, então em sua formação original: lsmael
Netto, Severino Filho, Badeco, Quartera e Valdir.

Todos eles também demonstravam uma sensível
influência da música americana, mais elaborada e
de uma certa forma mais elegante.

Billy Blanco foi um dos primeiros parceiros de Tom Jobim e Dolores Duran.
Dick Farney, nome artístico de Farnésio Dutra da
Silva, chegou a ser apelidado de "o Frank Sinatra
brasileiro", tal a qualidade de sua voz. Logo após
o lançamento de Copacabana, Dick, um
apaixonado pela música americana, especialmente
por Sinatra, Mel Tormé e Dick Haymes,
embarcou para os Estados Unidos a fim de tentar
a carreira por lá, cantando também em inglês.
Em 1948, o cantor voltou ao Brasil, mas sua
carreira já estava irremediavelmente influenciada
pela música americana. Nos anos seguintes ele
gravaria sucessos como Marina e Alguém Como
Tu. No verão de 1949, foi fundado na Rua Dr.
Moura Brito, na Tijuca, o primeiro fã-clube do
Brasil: o Sinatra-Farney Fã-Clube, do qual faziam
parte nomes como Johnny Alf, João Donato e
Paulo Moura. Lá, além de ouvir fervorosamente
sucessos de seus dois ídolos, eles também
começavam a "arranhar" os seus instrumentos.

Voltando para a América, Dick tornou-se amigo
dos mais conhecidos instrumentistas do jazz como
Dave Brubeck, uma de suas principais influências
no piano.

Na década de 50, já amigo de diversos músicos
americanos e com respeitado conceito entre eles,
Dick Farney tocava no Peacock Alley, um
requintado bar do hotel Waldorf Astoria, em
Nova York. Como os frequentadores do bar em
sua maioria não falavam português, Dick
apresentava a música Copacabana com uma
versão em inglês. Na época, Ipanema ainda não
era cantada em prosa e verso, sendo o bairro de
Copacabana o verdadeiro cartão-postal do Rio de
Janeiro, o que despertava a curiosidade, na letra
em inglês, da canção que havia sido no Brasil um
grande sucesso do cantor.

Numa viagem ao Rio, em 1958, Dick deu um
memorável concerto de jazz no auditório do jornal
O Globo, apresentando-se com o baixista Xu
baiana e o baterista Rubinho. Entre os temas de
jazz, tocou sua versão de Copacabana com a
letra em português e inglês, o que foi o sucesso da
noite. O concerto foi gravado ao vivo e virou um
LP no qual curiosamente a faixa Copacabana não
se encontra. Dick Farney foi um dos primeiros
cantores a procurar uma nova maneira de
interpretar o samba. "Por que não existe um
samba que a gente possa cantarolar no ouvido
da namorada?", perguntava ele.

Obs.:João Goulart, Dolores Duran, Lúcio Alves e Nora Ney.
Todos anteriores à Bossa Nova.

Logo em seguida, uma turma de adolescentes do
Flamengo resolveu criar o Dick Haymes-Lúcio
Fan Club, para homenagear o fundador do grupo
Namorados da Lua. Lúcio Ciribelli Alves, nascido
em Cataguases, Minas Gerais, também era um
amante da música americana, principalmente do
jazz, que começou a ouvir ainda criança, na
Tijuca. Estimulado pela família, Lúcio participou
de um programa infantil na Rádio Mayrink Veiga,
Bombonzinho. Deste, passou para o Picolino, na
mesma rádio. De lá foi para a Rádio Nacional,
onde, no programa Em Busca de Talentos,
ganhou o primeiro prêmio. Daí em diante, Lúcio
não parou mais de cantar. Fã de conjuntos vocais
como Pied Pipers, Moderneer's e Starlighter's, aos
14 anos fundou o grupo Namorados da Lua, do
qual era crooner, violonista e arranjador. Com o
grupo vocal, inscreveu-se no programa de
calouros de Ary Barroso, conseguindo o primeiro
lugar. A partir daí, os Namorados gravaram mais
de 40 discos em 78 rotações e apresentaram-se
em cinemas e cassinos durante alguns anos.

Em 1947, Lúcio foi convidado para integrar, em
Cuba, o grupo Anjos do Inferno. De lá, com o
grupo, foi para os Estados Unidos, onde, assim
como Dick Farney, também muito aprendeu. Logo
Carmen Miranda convidava os Anjos para
acompanhá-la. Lúcio, no entanto, preferiu
abandonar o grupo e voltar para o Brasil,
encantando seus fãs com sucessos como Foi a
Noite, De Conversa em Conversa e Sábado em
Copacabana.

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